terça-feira, 26 de abril de 2011

LÍBIA: A GUERRA DO PETRÓLEO

No final de março, a OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte) assumiu o comando das operações militares contra as forças de Kadafi, que reprimem as manifestações contrárias à ditadura do presidente Líbio.
Os Estados Unidos e os países europeus envolvidos conduzem esta ofensiva com a justificativa de acabar com o autoritarismo dos apoiadores do governo de Kadafi. Entretanto, convém lembrar que as maiores reservas de petróleo do continente africano são as existentes na Líbia. Neste caso, a operação militar deflagrada pela OTAN, assim como a que ocorreu no Iraque, se configura num álibi na tentativa de privatização da produção petrolífera e na inserção das empresas norte-americanas e europeias neste país.
                           
Em entrevista à Folha de São Paulo o sociólogo José Luís Fiori (coordenador do programa de pós-graduação em economia política internacional da UFRJ) declarou que a operação militar deflagrada na Líbia não se trata de uma discussão sobre o direito a vida dos líbios, ou sobre os chamados direitos humanos, e menos ainda, sobre democracia. Segundo afirmou, nesta, como em todas as demais intervenções deste tipo, de europeus e dos EUA, feitas neste último século, jamais se esclarece a questão central de quem tem o direito de julgar e arbitrar a existência ou não de desrespeito aos direitos humanos em algum país em particular.
Ele destaca ainda que a questão central na Líbia não é apenas petróleo, mas o que também está em jogo é o controle de uma região fronteiriça da Europa, parte importante á época do Império Romano. “Acho que já estamos assistindo uma nova corrida imperialista na África, e que não é impossível que se volte a cogitar de alguma forma renovada de colonialismo”, conclui o sociólogo.
Mesmo que a intervenção possua outros desdobramentos é inevitável que as análises se detenham a cerca do petróleo, pois, a Líbia é o 17.º maior produtor mundial. Produz 1,7 milhões de barris por dia, do total de 88 milhões a nível mundial.
As estimativas mais recentes situam as reservas de petróleo da Líbia nos 60 bilhões de barris. As suas reservas de gás em 1.5 trilhão de metros cúbicos. A sua produção tem estado entre 1,3 e 1,7 milhão de barris/dia e a produção de gás de 2,6 bilhões de pés cúbicos por dia (Diário da África), de acordo com os dados da National Oil Corporation (NOC).
Outro fator que gera reflexões da ofensiva militar na Líbia é sobre a presença da China no norte da África (11% das exportações da Líbia são para os chineses). Analistas consideram que os Estados Unidos pretendem afastar a China e consequentemente a chinesa National Petroleum Corp (CNPC) desta região do continente africano.
Todas estas questões deixam-nos perplexos e nos fazem refletir sobre até onde os governos são capazes de ir à busca de benefícios financeiros. Para eles não importa se haverá perdas de vidas inocentes e se a destruição da ordem de países será afetada, o que realmente importa é busca incessante de seus objetivos, articulando coalizões que buscam a todo custo o predomínio da força ao invés do diálogo e da negociação política.
É este ponto de vista que defendemos: a solução deve ser pacífica. A negociação diplomática neste caso deve ser decisiva. Os ataques continuam, vidas são perdidas quase todos os dias e, no entanto, o conflito não chega ao fim. As negociações devem incluir um conjunto maior de países e a ofensiva militar da OTAN cessar imediatamente.

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