quarta-feira, 24 de junho de 2020

A GEOGRAFIA FÍSICA NA UNIVERSIDADE PÚBLICA

O Blog Geógrafos no facebook irá transmitir um debate com o seguinte tema: A Geografia Física na Universidade Pública: Métodos e Técnicas de Investigação Científica.
O debate faz parte do II Ciclo de debates Universidade Pública: Educação, Ciência e Desenvolvimento, e será transmitido no nosso canal no Facebook 


domingo, 27 de março de 2016

Cratera guarda a memória de impacto de corpo celeste na periferia de São Paulo

José Tadeu Arantes  |  Agência FAPESP* – Uma grande cratera, produzida pelo impacto de um objeto celeste, estende-se por uma área de 10,2 quilômetros quadrados na periferia do município de São Paulo. A formação geológica, denominada cratera de Colônia, situa-se a menos de 40 quilômetros do marco central da cidade, a Praça da Sé, na orla sudoeste da bacia hidrográfica Billings.

Com o interior atulhado por sedimentos e a borda coberta pela vegetação, a cratera permaneceu ignorada até o início da década de 1960, quando as fotos aéreas e depois as imagens de satélite puseram em evidência sua forma circular característica. A primeira referência na literatura especializada data de 1961, com a publicação, no Boletim da Sociedade Brasileira de Geologia, do artigo “Estudos preliminares de uma depressão circular na região de Colônia: Santo Amaro, São Paulo”, assinado pelos professores Rudolph Kollert, Alfredo Björnberg e André Davino, da Universidade de São Paulo (USP).


Mas, como estruturas circulares podem resultar de outros fatores, como o vulcanismo, por exemplo, persistiu por muito tempo a dúvida sobre se a cratera de Colônia havia sido realmente criada pelo choque de um corpo extraterrestre. Apenas em 2013, graças a uma pesquisa conduzida pelo geólogo Victor Velázquez Fernandez, professor da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo (EACH-USP), foram finalmente reunidas as evidências que comprovaram a hipótese do impacto. O estudo, que prosseguiu até 2015, teve o apoio da FAPESP: “Cadastramento dos elementos geológicos e geomorfológicos da cratera de Colônia para estabelecer uma estratégia de gestão e preservação ambiental”.

Artigo relatando as evidências foi publicado por Velázquez e colaboradores no International Journal of Geosciences: “Evidence of Shock Metamorphism Effects in Allochthonous Breccia Deposits from the Colônia Crater, São Paulo, Brazil”.
Artigos posteriores do pesquisador enfatizaram também outro aspecto do tema, que é a caracterização dessa formação geológica como patrimônio natural e área a ser protegida e conservada: “The Colônia Impact Crater: Geological Heritage and Natural Patrimony in the Southern Metropolitan Region of São Paulo, Brazil” e “The Current Situation of Protection and Conservation of the Colônia Impact Crater, São Paulo, Brazil”.

“O impacto produziu um buraco de 3,6 quilômetros de diâmetro, com cerca de 300 metros de profundidade e uma borda soerguida de 120 metros”, disse Velázquez à Agência FAPESP. “Mas, ao longo do tempo, e devido ao intenso processo de intemperismo característico do território brasileiro, esse buraco foi inteiramente preenchido por sedimentos e coberto pela vegetação, resultando em uma área plana circundada por colinas. Foi uma evolução muito diferente daquela ocorrida, por exemplo, na Cratera Barringer, no Arizona, Estados Unidos, onde a estrutura geológica ficou praticamente intacta devido ao ambiente desértico.”



“No caso de Colônia, a forma circular perfeita, registrada nas fotografias aéreas, constituía forte indício de uma estrutura de impacto, formada pela colisão de um cometa ou asteroide na superfície terrestre. Mas não era, por si só, um dado suficiente para confirmá-la. Por isso, tivemos que partir para o estudo petrográfico, com a análise microscópica dos sedimentos”, prosseguiu o pesquisador.

Segundo Velázquez, a coleta de material tornou-se possível devido a sondagens realizadas na região para fornecimento de água potável. As perfurações, realizadas na área sedimentar, chegaram a 300 metros de profundidade, até encontrar a rocha dura. Devido a uma cooperação então existente entre a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) e a EACH-USP, amostras de sedimentos, colhidas metro a metro, foram fornecidas à universidade para estudo.

“Nas amostras coletadas, encontramos várias evidências. Uma delas, bastante forte, foi a evidência de transformação de vários minerais, em particular, quartzo e zircão. Para a transformação desses minerais é necessária uma pressão superior a 40 quilobars [40 mil vezes a pressão atmosférica padrão] e uma temperatura da ordem de 5 mil graus Celsius. Esses patamares de pressão e temperatura são característicos da potente liberação de energia resultante do impacto na superfície terrestre de um objeto proveniente do espaço interplanetário”, informou o pesquisador.

Com esta e outras evidências do mesmo naipe, a hipótese do impacto foi demonstrada. E a cratera de Colônia encontra-se, agora, devidamente inventariada na Earth Impact Database (EID), uma base de dados internacional mantida pelo Planetary and Space Science Centre (PASSC), instalado na University of New Brunswick, Canadá. A EID contém a relação completa das 188 estruturas de impacto confirmadas em todo o mundo.



Monumento Geológico
Os estudiosos ainda não sabem que tipo de objeto provocou o impacto, se um corpo rochoso ou metálico, como o de um asteroide, ou um corpo constituído por gelo, como o de um cometa. “Mas há, atualmente, 50 novas amostras em estudo no Canadá, que poderão fornecer os dados que faltam para a determinação do objeto impactante”, afirmou Velázquez.

Outra expectativa é que a investigação ainda em curso possibilite estabelecer com maior exatidão a data do evento. Por enquanto, a data estimada é bastante imprecisa, situando-se em um intervalo de 5 milhões a 36 milhões de anos no passado. “A importância de melhorarmos substancialmente a datação é que isso criará condições para um estudo paleoclimático com base nos sedimentos encontrados. Analisando, centímetro por centímetro, a composição da coluna de sedimentos, desde a profundidade de 300 metros (correspondente à data do impacto) até o nível da superfície (correspondente à data atual), será possível compor um quadro bastante expressivo da evolução do clima na América do Sul e, por extensão, no mundo”, explicou o pesquisador.

Por isso, a cratera de Colônia possui, do ponto de vista científico, uma importância inestimável. Mas, para que seu potencial se efetive, é preciso que o patrimônio seja preservado e adequadamente manejado. A formação foi declarada “Monumento Geológico” pelo Conselho Estadual de Monumentos Geológicos do Estado de São Paulo (CoMGeo-SP) em 2009. Porém, quando isso ocorreu, parte da área já se achava ocupada.

“Há, na borda norte, uma ocupação menor e bastante antiga, promovida por colonos alemães que chegaram à região por volta de 1840. Devido a ela, a área recebeu inicialmente o nome de ‘Colônia Alemã’, denominação que mudou para apenas ‘Colônia’ durante a Segunda Guerra Mundial. Mas há também uma ocupação mais recente, bem maior e desordenada, ocorrida nas décadas de 1980 e 1990, que deu origem ao bairro de Vargem Grande, atualmente com cerca de 47 mil habitantes”, disse Velázquez.

Com habitações precárias e grande carência de equipamentos urbanos, Vargem Grande [não confundir com Vargem Grande Paulista, que é um município da Região Metropolitana de São Paulo, nem com Vargem Grande do Sul, que é um município da Mesorregião de Campinas, no Estado de São Paulo] possui as mazelas características de vários bairros periféricos das grandes metrópoles brasileiras. Como o lençol freático é muito aflorado, devido à estrutura sedimentar do terreno, os moradores não têm sequer a opção de cavar fossas sépticas, de modo que os esgotos fluem a céu aberto.

“Em contraste com a borda norte, a borda sul é ocupada por sítios cujos proprietários se dedicam à permacultura [agricultura ecológica]. Isso é muito interessante, porque são pessoas engajadas na preservação do meio ambiente. Existem ali matas densas, com trilhas muito aprazíveis”, relatou o pesquisador.

A preocupação em conservar o patrimônio geológico levou Velázquez e seus colaboradores a incorporar ao projeto de pesquisa tópicos relativos à preservação ambiental e à gestão da área.
“Com foco na preservação, estamos atuando em três frentes distintas. Primeiro, na criação de um site, abrigado no portal da USP, que possibilite a visitação virtual da cratera, com acesso diferenciado para pesquisadores, estudantes e público em geral. Segundo, na produção de um gibi em branco e preto, para ser distribuído nas escolas de primeiro grau de Vargem Grande e colorido pelos alunos, de forma que estes se sintam responsáveis pela área e se empenhem em sua conservação. Terceiro, no trabalho de campo em educação ambiental e turismo ecológico”, detalhou.

Velázquez estuda regularmente a região desde 2005. E disse que, ao longo destes 11 anos, testemunhou uma lenta mas consistente tomada de consciência da população local quanto à importância de preservar a formação geológica. “Construímos uma boa interlocução com as associações de moradores, que estão atualmente empenhadas em iniciativas como o Movimento Cratera Limpa”, afirmou.
Das 188 crateras de impacto catalogadas pela EID, existem apenas duas habitadas: Colônia, no Brasil, e Ries, na Alemanha. Diferentemente do que ocorreu aqui, porém, Ries, cujos primeiros vestígios de assentamentos humanos remontam ao período paleolítico, foi objeto de um criterioso manejo. Em torno da cratera, de 24 quilômetros de diâmetro, estende-se o primeiro geoparque da Bavária, com 1.800 quilômetros quadrados de área.

*Matéria publicada originalmente em 22 de março de 2016 no sítio: http://agencia.fapesp.br/cratera_guarda_a_memoria_de_impacto_de_corpo_celeste_na_periferia_de_sao_paulo/22887/

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

2016, El Niño e mudanças climáticas: O que esperar dessa combinação?

Laís Carla da Silva Barbiero*

Em um artigo antigo, abordei a temática dos registros apontados pela ONU (Organização das Nações Unidas) e OMM (Organização Meteorológica Mundial) que, naquela ocasião, apontavam o ano de 2014 como o mais quente da história da Terra, desde que se tem registro das temperaturas do planeta.
No entanto, três agências governamentais dos EUA e Reino Unido, de forma independente e com métodos distintos de medições, anunciaram ontem (20/01/2016) o que já se esperava: 2015 foi ainda mais quente, ficando com 0,13°C acima de 2014 e 1°C acima da temperatura da Terra pré-industrial. O mais impressionante, é pensar que mesmo que o final de 2015 tenha sido influenciado pelo El Niño, a maior parte dos meses deste ano estiveram em situação “normal” no que se refere ao mencionado fenômeno. Isto leva a crer 2016 – ano em que o fenômeno estará em seu auge – será marcado por eventos extremos de calor, estiagem brusca em alguns lugares, tempestades e chuvas acima da média em outros e as consequências das mudanças climáticas sendo sentidas em todo mundo somadas a isso.
A imagem abaixo é um gráfico que representa o ano de 2015 (linha negra, acima de todas as outras), em comparação com outros seis anos em que as temperaturas foram as mais elevadas desde 1880. Nota-se que todos os recordes de temperaturas foram registrados a partir de 1998, na ocasião de um El Niño que até então era considerado o mais intenso já identificado. E, de todos os anos citados, somente 2013, 2014 tiveram temperaturas elevadas dissociadas do fenômeno natural de aquecimento do Pacífico.


Mas, afinal o que é o El Niño?
O El Niño é um fenômeno natural que ocorre em ciclos irregulares num período de 2 a 7 anos e se caracteriza pelo aquecimento anômalo das águas do Oceano Pacífico Equatorial Oriental e Central, principalmente na região da costa do Peru e Chile, onde se originou seu nome. Nestes locais, a mudança de temperatura na superfície do oceano é causadora da diminuição dos peixes e de excessos de chuvas no mês de dezembro, sendo que o nome “niño” (que significa menino, em espanhol) refere-se ao menino Jesus e a época do Natal quando ocorrem.
Segundo o SIMEPAR, um El Niño clássico tem tempo de duração de aproximadamente 12 meses – do aquecimento ao resfriamento, com início nos meses iniciais do primeiro ano e com máxima intensidade no final do ano a janeiro do ano subsequente. A questão principal deste fenômeno é que o aquecimento maior das águas causa também uma maior evaporação das mesmas e, consequente aumento de formações de nuvens. Portanto, a influência do El Niño no clima global, deve-se às mudanças no padrão dos ventos, pressão e da formação de massas de ar no planeta, que é atingido de forma distinta em cada região.

O que o El Niño 2016 tem de especial?

Este fenômeno, que teve seus primeiros sinais no final do ano de 2015, já está sendo considerado pelos pesquisadores como potencial causador de eventos extremos como nunca vistos antes. Isto porque os padrões observados já se assemelham muito com aquele ocorrido em 1998 (que como já foi dito era considerado o mais intenso), com o agravante de estar associado com mudanças climáticas significativas, sentidas com mais intensidade nos últimos anos.
temperatura global 2
Comparando os anos de 1997 e 2015, num mesmo período e sob as mesmas condições de medição, temos que a semelhança entre ambos é visível. A imagem acima mostra o oceano no mês de julho, geralmente o mês em que as águas começam seu aquecimento anômalo, representado no mapa pela variação de cores, sendo que quanto mais vermelho, mais quente se encontra a superfície das águas.

Tomando isso como base e a grande quantidade de estudos que foram realizadas desde então, entende-se que este El Niño já pode ser considerado o mais intenso registrado, mesmo sem se somar com as mudanças climáticas que o planeta vem sofrendo. Agora, se considerarmos estas mudanças, temos previsões de eventos extremos, os quais muitos países ainda não estão preparados para suportar.


Observando a imagem acima, dá para ter uma ligeira ideia sobre as consequências que um El Niño de forte intensidade pode causar. No final de 1997 e 1998, tivemos no Brasil uma intensa seca na Amazônia que aumentou significativamente as queimadas, o Nordeste passou por uma das piores estiagens, enquanto que no Sul as chuvas ficaram acima da média, causando tempestades e enchentes. No mundo inteiro já se sentem seus efeitos. De acordo com o Jornal Econômico Digital “A Indonésia, por exemplo, vive um ano de seca, na Índia, a monção esteve 15% abaixo do normal; na América Central, são esperadas mais inundações. A devastação climatérica tem como consequência direta a subida dos preços dos alimentos e, no fim da linha, a fome”. Já são mais de 30 milhões afetados somente na África, numa seca declarada como a pior dos últimos 50 anos. No último fim de semana os EUA viveram uma das piores nevascas da história com ao menos 25 mortes relacionadas.
Para concluir o entendimento de toda essa história sobre o El Niño e as mudanças climáticas é preciso ter em mente que os fenômenos são diferentes em cada parte do globo e o que caracteriza tais mudanças são situações de EXTREMOS e não apenas sua ocasião. Ondas de calor cada vez mais frequentes ou nevascas de grande intensidade, períodos de chuvas acima da média ou estiagem por um tempo muito maior do que o normal, tornados se formando em locais onde não se registrava, furacões tomando forma no oceano com proporções gigantescas, tudo isso e mais.


* Geógrafa, especialista em Gestão Ambiental e Desenvolvimento Sustentável, com área de estudo voltada para a Mobilidade urbana e meios de transporte alternativos. Atua como Consultora Ambiental, dando suporte também em topografia, geoprocessamento, georreferenciamento rural entre outros.

terça-feira, 17 de setembro de 2013

A origem dos continentes e dos oceanos: "A inexistência das placas tectônicas"

Newton Monteiro de Campos Junior


Este artigo propõe algo diferente, que a origem dos continentes e dos oceanos – posição atual dos mesmos – ocorreu pela explosão da crosta granítica, em função das atrações gravitacionais. O Geógrafo Newton Jr. discorre ao longo do texto observações que indicam a inexistência das placas tectônicas e da deriva continental.


Consideremos, a priori, que Terra e Lua tenham sido formados há uns 4.500 milhões de anos, pela acreção sucessiva de material que orbitava o Sol. A densidade e estrutura de Terra e Lua era similar à dos demais planetas internos (Mercúrio, Vênus, Marte). O calor gerado pelos choques levou estes corpos a experimentar tais temperaturas que permitiu que ocorresse uma diferenciação parcial de seu interior. De modo similar ao observado na diferenciação na siderurgia, a crosta terrestre era formada por uma camada silicática, cerâmica, refratária. Era como a crosta continental atual, mas que cobria 100% do planeta.
Lua e Terra giram em torno do centro de massa do sistema Terra-Lua. O calor do interior da Terra tentava escapar, mas a crosta cerâmica, refratária ao calor, produziu uma região super aquecida. Esta região subcrustal, super aquecida, forma uma camada liquefeita de magma: a descontinuidade de Mohorovicic ou Moho. A Moho implica num grau de liberdade à crosta, como a de nossa pele em nosso corpo. A pele pode enrugar-se e mover-se, com bastante independência em relação aos músculos e ossos.
O início do Cambriano, há uns 540 milhões de anos, foi marcado pela chegada de um cometa (ver ilustração 1), vindo do cinturão de Kuiper e composto por água e amônia, mistura cujo ponto de solidificação está a cerca de 100ºC negativos. Com a aproximação do centro do Sistema e do calor do Sol, o cometa foi ficando menos duro, mais liquefeito. Por isso o impacto foi muito mais ameno do que o de um corpo rígido.

 Ilustração 1 - Toda a água da Terra pode ser representada numa esfera com entre 380 e 670 km de raio, dependendo da estimativa. Fonte: Jack Cook, Woods Hole Oceanographic Institution; USGS.

A vida, na forma de bactérias, pode ter vindo submersa nessa “espaçonave cometa”, e isso se mostra indicado pela explosão da vida ocorrida então. Quanto ao resultado desse impacto para nosso planeta, podemos até dizer que a explosão da vida no Cambriano foi mais violenta do que o impacto físico em si. Em 15 milhões de anos formaram-se todos os reinos existentes até hoje.
Com a tendência natural ao equilíbrio – e ao equilíbrio dinâmico –, a quase totalidade da crosta ficou coberta por uma película de água, com cerca de 3 km de profundidade. As exceções ficaram por conta dos muitos vulcões elevados por todo o planeta.
Como quase toda a crosta estava submersa, todos os continentes estiveram abaixo do grande oceano, como constatamos pela presença dos fósseis marinhos em todos eles. Essa pouca água foi suficiente para mudar o regime de resfriamento do planeta: um novo gradiente de temperatura na crosta. A crosta trocava calor e resfriava mais rápido que o interior.
A evaporação da água e da amônia criaram uma atmosfera rica em água e nitrogênio. Com o passar do tempo, esse oceano foi se tornando um pouco salgado, pela dissolução de substâncias da crosta continental hegemônica – agora submersa. A salinidade das células, ainda hoje, deve ser compatível com a salinidade oceânica de então. A vida que proliferava foi, aos poucos, enriquecendo nossa atmosfera também com oxigênio e, a partir desse, com nossa protetora camada de ozônio.
A pequena agregação de massa, pela acreção do cometa à Terra, implicou no desequilíbrio nas forças gravitacionais do conjunto Terra-Lua. A Lua passou a aproximar-se da Terra em movimento espiral convergente. Essa aproximação continuou até o final do Permiano – fim do Paleozóico, há uns 250 milhões de anos. No Permo-Triássico, o aumento da força gravitacional provocou uma extinção em massa de plantas e animais. Nesta extinção, até os insetos e trilobitas desapareceram.
Um imenso volume de substâncias orgânicas começou a depositar-se no fundo oceânico. Com a contínua aproximação lunar, antes mesmo da oxidação dos restos orgânicos, o aumento das marés gravitacionais rompeu a crosta silicática subaquática, criando imensas rachaduras – rifts. As águas escorreram para estas rachaduras e carregaram os restos orgânicos, que entraram em contato com o magma.
Por sobre a matéria orgânica cozida, com a evaporação da água, depositou-se o sal que estava contido nos oceanos. Por sobre esse sal, os fragmentos resultantes da continuidade do rifteamento da crosta terrestre. As estruturas formadas nesse evento são as plataformas continentais atuais (ver ilustração 2). A cadeia meso-atlântica marca a posição de um desses rifts.

Ilustração 2 - A estrutura da plataforma continental. Ilustração de Newton M. Campos Jr.


A Lua, ainda em sua órbita espiral convergente, continuava a aumentar sua velocidade de translação em direção ao centro de massa do conjunto Terra-Lua. Depois de alguns milhões de anos, ao final do Triássico, antes que a Lua explodisse pelas forças gravitacionais (Limite de Roche), a ruptura aconteceu no elo mais fraco. Foi a crosta terrestre que explodiu, em função de seu rifteamento e da descontinuidade subcrustal de Moho.
Houve uma nova extinção da vida em massa. A Lua não chegou a chocar-se, pois a velocidade lunar, a perda de massa terrestre e a conservação do momento fizeram com que a Lua passasse a uma órbita espiral divergente.
Com a explosão da crosta, as partes tomaram caminhos diferentes. Uma terça parte, que estava no lado contrário ao da atração no momento da explosão, se manteve grudada ao planeta – Pangea – mas seus pedaços se dispersaram de acordo com os rifts pré-existentes e de modo a manter o equilíbrio dinâmico planetário. A crosta explodiu como se tirássemos um pano que cobria uma bola. Esse pano foi puxado a partir de um ponto antipodal à meso Atlântica. África e América ficaram equidistantes da meso Atlântica. O paleomagnetismo nos confirma as rotações das partes continentais – em acordo com o Teorema de Euler[1].
Com a exposição de cerca de 50% do manto, as águas voltaram a evaporar-se.
Uma outra parte da crosta ainda pode ser vista como ofiolitos (pedaços de fundos oceânicos sobre os continentes) ou como loess (poeira do rompimento da crosta). Algumas partes da antiga crosta continental (silicática, refratária ao calor) foram enfiadas no manto, sendo detectáveis nas recentes tomografias do planeta. Algumas bordas do Pangea se elevaram por rebote elástico ou torção, gerando glaucofanos e xistos azuis. Formaram-se bacias à retaguarda das cordilheiras do Pacífico, e nessas bacias se depositou parte da poeira (loess) gerada. Por mais que não possamos datar formas, como nos lembra Jurandyr[2], em se tratando de um mesmo evento no tempo, as cordilheiras do Pacífico possuem a mesma idade que os fundos oceânicos. Por baixo destas cordilheiras elevadas na explosão gravitacional, formaram-se os batólitos. Essas intrusões magmáticas que não pressionaram as montanhas acima; apenas ocuparam o espaço que ficou por baixo delas.

Ilustração 3 - As montanhas da Ásia Central. 
Imagem tomada de http://davidderrick.wordpress.com/category/maps/maps-of-central-asia/.


A crosta asiática foi arremessada sobre a Índia. Formam-se Himalaya e Tian Shan (ilustração 3). A explosão também resultou em partes dispersas com crosta continental, como as ilhas Seychelles, ou como a elevação do Rio Grande, em meio ao Atlântico Sul.
Os oceanos voltaram a formar-se – com água doce – pois o sal depositou-se com a total evaporação dos oceanos anteriores. Podemos considerar que a cicatrização do oceano Pacífico, em virtude de sua dimensão, foi como uma cicatrização de dentro para fora (cicatrização de 2ª intenção). No Atlântico a cicatrização ocorreu de fora para dentro.


Ilustração 4 - Padrão zebrado no resfriamento de assoalho oceânico. Ilustração de Newton M. Campos Jr.

O magnetismo remanente identificado nas perfurações de fundo oceânico, com inversões sucessivas no aprofundamento, indica-nos um padrão de resfriamento – não de gênese – dessa nova crosta oceânica.
Simultaneamente com o afastamento, a Lua foi recoberta por estilhaços e poeira silicática – parte da crosta pulverizada ou em pedaços que arrastou da Terra. Quando recolhemos material na Lua, encontramos material similar ao da crosta terrestre. Isso incluiu alguma água, já constatada como isotopicamente similar à da Terra[3]. A Lua recebeu acreção desse material prioritariamente silicático enquanto se afastava. O material cobriu a Lua de forma irregular, provocando suas variações gravitacionais e deixando sua densidade menor que a dos planetas internos. Com a acreção, o raio lunar foi aumentado em 300 km, passando à dimensão atual.
Os choques dos estilhaços provocaram milhares de crateras na superfície lunar. A diferença entre o volume de crateras na Lua e na Terra advém da perda de 2/3 da crosta terrestre, eliminando crateras antigas, e da quantidade de crateras provocadas por essa recente acreção lunar.
A cadeia meso-atlântica indica-nos o perfil da separação entre África e América. Este segundo evento acontece quando as plataformas continentais já estavam parcialmente formadas em virtude do rifteamento ocorrido no evento anteriormente descrito.
O relevo subaéreo se altera mais rápido do que o relevo submarino. De um modo geral, o relevo dos continentes preservou-se mais durante o Paleozóico (submarino) do que no Mesozóico (subaéreo). Por isso, a razão isotópica do Sr foi maior no Mesozóico do que no Paleozóico.
Nos oceanos proliferaram, desde o início do Mesozóico, os ostracodes de água doce. Na Terra, as chuvas litificaram, ou lavaram e arrastaram os depósitos de loess – que se transformaram em silte e argila. Onde a pluviosidade ou o gradiente gravitacional eram pequenos, os depósitos de loess se mantiveram.


Ilustração 5 – Mapa histórico de Maton Pecsi (1991) mostrando a ocorrência de depósitos de loess (1-preto) e sedimento similar (2-cinza). Fonte: http://pages-142.unibe.ch/science/adom/goals.html.

Por volta do Aptiano, há uns 135 milhões de anos, os oceanos já dispunham de uma salinidade tal que foi provocando a extinção dos ostracodes de água doce e levando ao domínio dos ostracodes de água salgada. A salinidade atual dos oceanos é compatível com uma salinização provocada pelo deságue dos rios por 250 milhões de anos.
Melhor do que geoide, poderíamos definir o formato do planeta como um ovoide, com um bico de cerca de 1 metro de altura, que percorre a crosta de acordo com a resultante das atrações gravitacionais, principalmente do sistema Lua (2/3 das forças de atração) e Sol (1/3 da atração).
Essa maré terrestre se apresenta como uma crosta pulsante. Ela não pode ser identificada pelo GPS em virtude desses equipamentos não medirem distância[4] e de serem referenciados ao centro de massa (CM) da Terra.
O GPS consegue calcular com muita precisão as distâncias entre um ponto e outro na crosta, mas tem por referencial o CM da Terra. Cada vez que a crosta se move, o sistema se reposiciona. Assim como uma régua não pode medir sua própria dilatação, o GPS não consegue medir movimentos que afetem o CM da Terra. A crosta se move todo o tempo – vemos tais movimentos nas marés. As marés que afetam os oceanos, também afetam a crosta. Assim como o GPS não consegue medir a subida e baixada da crosta todos os dias, duas vezes ao dia, não consegue medir a distância entre dois continentes entre dois anos.
Os terremotos ocorrem principalmente nas áreas de maior fragilidade da crosta. No caso do oceano Pacífico – e sua cicatrização de 2ª intenção, de dentro para fora – a água que penetra por fissuras nessas áreas de fragilidade acabam por gerar solução e desabamento de arenitos e loesitos. Quando este desabamento afeta o fundo oceânico, um grande tsunami se forma. É o que temos assistido na sociedade dos espetáculos televisivos. Sobre o quê falavam os jornais imediatamente antes ou depois do grande tsunami que agrediu a costa japonesa há 2 anos? Uma anormal aproximação lunar[5] – a qual pode ter sido o gatilho do desabamento.

O trabalho completo, da conclusão de minha graduação em Geografia, pode ser acessado em http://www.crieseuanuncio.com.br/arquivos/Newton/TGIOrigemContinentes.pdf. São 50 páginas de história, 50 de justificativas, e 10 páginas com a minha tese, reescrita acima.
Já levo mais de 5 anos nesta tarefa e não tenho data para terminar. Cada dia mais radiante, já que as descobertas recentes tendem para meu lado – contra a tal tectônica de placas. Quando me perguntam a razão por eu não acreditar na tectônica de placas, sou direto: – Não acredito em virtude da inexistência de placas. Observem os mapas. Existem ridges, existem fossas oceânicas, e existem pontilhados nos mapas, interligando uns e outros. Sem esses pontilhados, as placas não existem. Ou seja, as placas existentes nos mapas não condizem com a realidade do planeta.

Dúvidas e críticas serão mais que benvindas.
Newton Monteiro de Campos Junior
USP 5403523



[1] Em geometria, o Teorema da rotação de Euler diz que, num espaço tridimensional, qualquer movimento de um sólido rígido que mantenha um ponto constante, também deve deixar constante um eixo completo. Isso também quer dizer que qualquer composição de rotações sobre um sólido rígido com eixos arbitrários é equivalente a uma só rotação sobre um novo eixo, chamado Pólo de Euler.
[2] Doutor Jurandyr Ross, professor de geomorfologia no Departamento de Geografia da FFLCH-USP.
[3]  Ver http://www.nature.com/news/common-source-for-earth-and-moon-water-1.12963.
[4] O sistema GPS é baseado em medição de tempo, por relógios atômicos de grande precisão. As distâncias são calculadas e ajustadas de acordo com outros satélites e referenciais (Datum) na crosta do planeta.
[5] Ver http://newswatch.nationalgeographic.com/2011/03/23/sizing-up-the-supermoon/.


quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Entrevista com o Professor Dr. Ricardo Augusto Felício


Ricardo Felício é bacharel e mestre em meteorologia, pela Universidade de São Paulo (USP) e pelo Instituto de Pesquisas Espaciais (INPE), respectivamente, com pesquisas desenvolvidas na Antártida, onde já esteve por duas temporadas. É doutor em climatologia pela USP, onde atualmente é Professor.

Segue abaixo entrevista realizada com o Professor Ricardo Felício para o Blog Geógrafos, e em seguida um vídeo com entrevista realizada no programa do Jô.


P: Quais são os argumentos científicos utilizados para desmascarar o aquecimento global antropogênico?

Resp.: Primeiramente porque os que fazem a afirmação da coisa não trazem a evidência de que o Homem causou isto. Suas hipóteses não se confirmam, principalmente com os valores observados atualmente dos registros de dióxido de carbono e das temperaturas. Quanto fenômeno natural, o tal aquecimento, que foi extremamente suave, já era previsto de acontecer desde a década de 1970, anos em geral que se apresentaram mais frios, perdurando até o final do século XX. De fato, desde 1998 as temperaturas já indicam arrefecimento, daí a tentativa de “esconder o declínio”, fato registrado no famoso escândalo científico “climategate”. Assim, deverão apresentar, também de forma geral, declínio até aproximadamente a década 2020‑2030, se seguirem os padrões observados no último século.

P: Por que você acha que a questão ganhou tanta ênfase e o número de cientistas que defendem a necessidade de descarbonizar o planeta é maior do que aqueles que o descartam? Num artigo recente publicado pelo Wall Street Journal 16 cientistas dizem que o aquecimento global não existe. Já em outro publicado pela Revista Science, 255 cientistas assinam o artigo que defendem a necessidade de conter o aquecimento global.

Resp.: Na verdade este número de cientistas nunca foi comprovado, principalmente do lado do IPCC, onde a maior parte dos chamados cientistas são na verdade ongueiros, burocratas e pesquisadores de outras áreas, com quase nada de participação em climatologia. De fato, o número de cientistas não é importante, como diria Albert Einstein e Ivar Giaever, cientistas premiados com o Nobel de Física (e não da Paz, como os auto-titulados co-laureados do IPCC e Al Gore). O importante é se os cientistas estão certos. Evocar o princípio da precaução alegando que devemos agir sem plena certeza científica faz com que esta história se torne religião. Se tivermos certeza, agimos, mas se não tivermos, agimos também? Então para quê ciência se todas as decisões já foram tomadas? Enfim, a descarbonização é a atitude mais tola que a humanidade está prestes a tomar, pois o carbono não controla o clima da Terra, sendo então uma ação extremamente cara, infrutífera e no final das contas não resultará em nada. Criar-se-á uma burocracia inútil que só reverterá prejuízos para a humanidade como um todo, especificamente para os países que têm mais necessidades de desenvolvimento. Ressalta-se ainda que acreditar que as mãos humanas conseguem controlar os fluxos de massa e energia planetários só pode ser mesmo um ato de fé.

P: Como o gás carbônico atua na nossa atmosfera?  Qual é seu papel para a existência da vida? Como ele é produzido?

Resp.: Na atmosfera ele se concentra na proporção de 0,033% (supostamente evocam que ele chegou a 0,038%). É um gás traço essencial para a vida na Terra, pois é utilizado pelas plantas e principalmente dentro dos oceanos, na zona fótica, pelo fitoplâncton para a realização da fotossíntese. A esmagadora proporção de dióxido de carbono vem dos oceanos, em primeiro plano. Se eles se apresentarem mais aquecidos, como observado nos últimos 60 anos, excetuando-se os últimos cinco, eles liberarão mais para a atmosfera, pois a solubilidade do gás é inversamente proporcional a sua temperatura. A seguir, temos os vulcões, que todo ano dão uma contribuição significativa. Uma erupção grande é equivalente a toda emissão humana de um ano. Temos cerca de 550 vulcões ativos na Terra. Quanto à emissão dos pobres humanos e toda a sua colossal atividade, esta é menor que a emitida pelo insetos existentes no planeta.

P: Como você explica que a Camada de Ozônio não existe? Como ela pôde ser inventada?

Resp.: O conceito de “camada” é reducionista de algo que é mais complexo e intrincado. Aconteceu que passou o tempo e a coisa virou uma entidade. Não existe tal camada. O que existe é a chamada ozonosfera, parte da baixa estratosfera, onde a probabilidade da existência de gás ozônio é maior, dada certas condições particulares. Assim, o ozônio se apresenta como nuvens ozônicas, e não como camada, as quais permanecem nesta faixa da atmosfera onde a pressão é muito baixa (de 50 a 10mb, quando na superfície, ao Nível Médio do Mar, ela é considerada com 1013,25mb). Nem mesmo o próprio Gordon Dobson dizia “camada”, “buraco na camada” e coisas afins. Eles já sabiam que a variação do ozônio é extremada. De uma hora para outra verificava-se variação de 1000% (mil) nas concentrações do gás, dada a sua alta reação. Ao mesmo tempo, deve-se ressaltar que o gás só é produzido com a ação da radiação ultravioleta da banda C. Sem luz, sem ozônio. Simples assim. Desta forma, nas partes polares, a sua baixa concentração verificada na saída dos respectivos invernos é dada pela ausência de luz solar e não por causa de CFCs ou coisas do gênero. As diferenças marcantes entre os hemisférios da Terra fizeram com que as anomalias sobre o pólo Sul fossem mais acentuadas do que as verificadas no pólo Norte. Os cientistas sempre souberam disto.

P: Você acha que o aquecimento global pode ser um factóide criado por interesses políticos e econômicos para evitar a verdadeira discussão que seriam as questões ligadas á responsabilidade social, como melhoria da qualidade de vida das populações, a poluição dos mares, enfim o descarte da quantidade crescente de lixo, que uma economia movida pelo consumo produz?

Resp.: Sem dúvida. Desvia-se o foco dos nossos verdadeiros problemas para uma coisa sem fundamento. Ao invés de usarmos os nossos melhores recursos financeiros e humanos na resolução e discussão de problemas como saneamento, saúde, educação e criação de resiliência humana frente às adversidades, perdemos tempo em uma fantasia que só tende a agravar a situação atual.