quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

2016, El Niño e mudanças climáticas: O que esperar dessa combinação?

Laís Carla da Silva Barbiero*

Em um artigo antigo, abordei a temática dos registros apontados pela ONU (Organização das Nações Unidas) e OMM (Organização Meteorológica Mundial) que, naquela ocasião, apontavam o ano de 2014 como o mais quente da história da Terra, desde que se tem registro das temperaturas do planeta.
No entanto, três agências governamentais dos EUA e Reino Unido, de forma independente e com métodos distintos de medições, anunciaram ontem (20/01/2016) o que já se esperava: 2015 foi ainda mais quente, ficando com 0,13°C acima de 2014 e 1°C acima da temperatura da Terra pré-industrial. O mais impressionante, é pensar que mesmo que o final de 2015 tenha sido influenciado pelo El Niño, a maior parte dos meses deste ano estiveram em situação “normal” no que se refere ao mencionado fenômeno. Isto leva a crer 2016 – ano em que o fenômeno estará em seu auge – será marcado por eventos extremos de calor, estiagem brusca em alguns lugares, tempestades e chuvas acima da média em outros e as consequências das mudanças climáticas sendo sentidas em todo mundo somadas a isso.
A imagem abaixo é um gráfico que representa o ano de 2015 (linha negra, acima de todas as outras), em comparação com outros seis anos em que as temperaturas foram as mais elevadas desde 1880. Nota-se que todos os recordes de temperaturas foram registrados a partir de 1998, na ocasião de um El Niño que até então era considerado o mais intenso já identificado. E, de todos os anos citados, somente 2013, 2014 tiveram temperaturas elevadas dissociadas do fenômeno natural de aquecimento do Pacífico.


Mas, afinal o que é o El Niño?
O El Niño é um fenômeno natural que ocorre em ciclos irregulares num período de 2 a 7 anos e se caracteriza pelo aquecimento anômalo das águas do Oceano Pacífico Equatorial Oriental e Central, principalmente na região da costa do Peru e Chile, onde se originou seu nome. Nestes locais, a mudança de temperatura na superfície do oceano é causadora da diminuição dos peixes e de excessos de chuvas no mês de dezembro, sendo que o nome “niño” (que significa menino, em espanhol) refere-se ao menino Jesus e a época do Natal quando ocorrem.
Segundo o SIMEPAR, um El Niño clássico tem tempo de duração de aproximadamente 12 meses – do aquecimento ao resfriamento, com início nos meses iniciais do primeiro ano e com máxima intensidade no final do ano a janeiro do ano subsequente. A questão principal deste fenômeno é que o aquecimento maior das águas causa também uma maior evaporação das mesmas e, consequente aumento de formações de nuvens. Portanto, a influência do El Niño no clima global, deve-se às mudanças no padrão dos ventos, pressão e da formação de massas de ar no planeta, que é atingido de forma distinta em cada região.

O que o El Niño 2016 tem de especial?

Este fenômeno, que teve seus primeiros sinais no final do ano de 2015, já está sendo considerado pelos pesquisadores como potencial causador de eventos extremos como nunca vistos antes. Isto porque os padrões observados já se assemelham muito com aquele ocorrido em 1998 (que como já foi dito era considerado o mais intenso), com o agravante de estar associado com mudanças climáticas significativas, sentidas com mais intensidade nos últimos anos.
temperatura global 2
Comparando os anos de 1997 e 2015, num mesmo período e sob as mesmas condições de medição, temos que a semelhança entre ambos é visível. A imagem acima mostra o oceano no mês de julho, geralmente o mês em que as águas começam seu aquecimento anômalo, representado no mapa pela variação de cores, sendo que quanto mais vermelho, mais quente se encontra a superfície das águas.

Tomando isso como base e a grande quantidade de estudos que foram realizadas desde então, entende-se que este El Niño já pode ser considerado o mais intenso registrado, mesmo sem se somar com as mudanças climáticas que o planeta vem sofrendo. Agora, se considerarmos estas mudanças, temos previsões de eventos extremos, os quais muitos países ainda não estão preparados para suportar.


Observando a imagem acima, dá para ter uma ligeira ideia sobre as consequências que um El Niño de forte intensidade pode causar. No final de 1997 e 1998, tivemos no Brasil uma intensa seca na Amazônia que aumentou significativamente as queimadas, o Nordeste passou por uma das piores estiagens, enquanto que no Sul as chuvas ficaram acima da média, causando tempestades e enchentes. No mundo inteiro já se sentem seus efeitos. De acordo com o Jornal Econômico Digital “A Indonésia, por exemplo, vive um ano de seca, na Índia, a monção esteve 15% abaixo do normal; na América Central, são esperadas mais inundações. A devastação climatérica tem como consequência direta a subida dos preços dos alimentos e, no fim da linha, a fome”. Já são mais de 30 milhões afetados somente na África, numa seca declarada como a pior dos últimos 50 anos. No último fim de semana os EUA viveram uma das piores nevascas da história com ao menos 25 mortes relacionadas.
Para concluir o entendimento de toda essa história sobre o El Niño e as mudanças climáticas é preciso ter em mente que os fenômenos são diferentes em cada parte do globo e o que caracteriza tais mudanças são situações de EXTREMOS e não apenas sua ocasião. Ondas de calor cada vez mais frequentes ou nevascas de grande intensidade, períodos de chuvas acima da média ou estiagem por um tempo muito maior do que o normal, tornados se formando em locais onde não se registrava, furacões tomando forma no oceano com proporções gigantescas, tudo isso e mais.


* Geógrafa, especialista em Gestão Ambiental e Desenvolvimento Sustentável, com área de estudo voltada para a Mobilidade urbana e meios de transporte alternativos. Atua como Consultora Ambiental, dando suporte também em topografia, geoprocessamento, georreferenciamento rural entre outros.