quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Geógrafo distorce mapas-mundi para mostrar o planeta como ele é

O mapa-mundi é uma das imagens mais conhecidas da Humanidade. Dá pra reconhecer de longe o desenho, mas você já parou pra pensar no que os contornos realmente querem dizer? 95% da população ocupa 10% do território do planeta, ou seja: quase tudo que você vê em um mapa clássico é informação inútil ou desperdício de espaço. Foi pensando nisso que o geógrafo alemão Benjamin Hennig começou a fazer esses “mapas sociais” ou “Mapas do Antropoceno”, como ele gosta de dizer.
Antropoceno é a forma como alguns cientistas se referem ao período mais recente da História do nosso planeta, com data de início normalmente associada ao século XVIII, quando a presença da Humanidade começou a impactar os ecossistemas aqui da Terra. Esse conceito ajuda a entender os mapas de Hennig. A ideia é a seguinte: moldar o espaço a partir da atividade humana que acontece nele. “Se quisermos que as pessoas se identifiquem com mapas, precisamos parar de desperdiçar espaço nos mapas”, ele crava.
Hennig conta a que essa subversão da geografia tradicional começou a ser pesquisada no século XIX e já nos anos 30 os primeiros trabalhos começaram a surgir. Mas a coisa mudou de figura com a popularização de outra atividade humana: a computação. “Os computadores de hoje criam algoritmos específicos para desenhar mapas distorcidos. O meu trabalho é baseado nisso: novas formas de visualizar as dimensões humanas do nosso planeta. Formas que vão além da representação física.”
A Galileu pediu para Hennig escolher alguns de seus trabalhos favoritos e falar um pouco sobre eles. Confira as imagens e as respectivas explicações:
Planeta Humano
"Esse é o mapa chave da minha pesquisa. Ele mostra de uma forma muito simnples como o espaço humano interage com o espaço físico. Nele, a gente pode ver a topografia do planeta Terra representada não só pela altura dos locais, mas pela quantidade de pessoas que vivem neles. Dessa maneira, locais extremamente altos quase desaparecem, pois quase ninguém mora ali."
Editora Globo
//Crédito: Ben Hennig
Minas Terrestres
"Estava lendo o jornal quando vi um mapa que falava de minas terrestres. A imagem não ajudava a entender o assunto: o mapa estava quase todo vazio, enquanto a Rússia dominava o desenho, só por seu território ser grande. Isso não reflete a realidade do assunto que o mapa tratava. Então eu fiz uma pesquisa e criei uma versão “melhor” do mapa."
Editora Globo
//Crédito: Ben Hennig
Risco de Terremotos
"Essa imagem retrata a densidade populacional versus o risco de terremotos a que essas áreas estão submetidas. É interessante notar que a megalópole Tóquio-Yokohama, com 35 milhões de habitantes, fica na costa banhada pelo Oceano Pacífico. Essa concentração de pessoas em uma área tão suscetível à terremotos mostra porque a região sofre tanto com esse fenômeno natural."
Editora Globo
//Crédito: Ben Hennig
Mortalidade Infantil
"Esse mapa é resultado de uma colaboração com a Save The Children (organização não governamental que luta pelos direitos das crianças). Eles estavam fazendo um relatório sobre desigualdades na saúde das crianças com menos de 5 anos. Como isso tem a ver com meu trabalho, eu aceitei o desafio e fiquei impressionado com as injustiças que a imagem escancara."
Editora Globo
//Crédito: Ben Hennig
Países nos Jogos Olímpicos
"Eu tive a ideia de fazer esse mapa por causa do tédio que me acometeu durante a cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos. Eu vi todos aqueles atletas marchando, com delegações de diferentes tamanhos, e pensei quantas pessoas cada país havia levado para o evento. Comecei a produzir o mapa durante a cerimônia mesmo."
Editora Globo
//Crédito: Ben Hennig
Forças Nucleares
"Meu objetivo ao desenhar esse mapa era colocar o alarmismo das armas nucleares em perspectiva. A distribuição dessas forças ainda é uma lembrança da época da Guerra Fria, com EUA e Rússia dominando o cenário mundial. Os país que estão no centro do debate nuclear hoje não tem um armamento relevante, sendo lembrados muito mais por questões políticas. O mapa é interessante por duas questões: mostra como estamos longe de um mundo livre de armas nucleares, mas também aponta exatamente para quais países devemos nos dirigir se quisermos isso."
Editora Globo
//Crédito: Ben Hennig
Para conhecer mais do trabalho de Ben Hennig, é só clicar: Views Of the World 
Texto retirado da revista GALILEU disponível no link: http://revistagalileu.globo.com/Revista/ 

segunda-feira, 2 de abril de 2012

      O blog Geógrafos retoma as atividades neste ano de 2012 com a triste notícia da morte do grande mestre Aziz Nacib Ab'Saber. Ele se foi, mas sua obra ficará registrada por muito tempo e seus estudos e pesquisas continuarão a fazer parte da memória da Geografia e de todos os Geógrafos.
            Nesta nossa homenagem a Ab'Saber apresentaremos alguns tópicos e momentos importantes da sua vida e da sua produção científico-intelectual. Respondendo a nosso pedido Ab'Saber enviou um DVD com o livro e todos os seus artigos e publicações para que divulgássemos aqui no blog. É desta forma, que iniciamos nossa homenagem. Baseado nas informações do livro que conta a sua vida e obra produzimos o texto que mostra a importância do trabalho de campo na vida de Ab'Saber e consequentemente a importância que tem na formação acadêmica dos Geógrafos.

            AZIZ AB'SABER E O TRABALHO DE CAMPO: “ESSÊNCIA DA FORMAÇÃO DOS GEÓGRAFOS”.

            A trajetória de Aziz Nacib Ab'Saber começa com um fundamento essencial na vida e na carreira dos Geógrafos: o trabalho de campo. Foi observando a paisagem nas primeiras viagens que realizou junto com sua família, quando ainda era criança, que despertou nele o senso de observação e a busca pelo entendimento de como funcionam os elementos da paisagem.
            Esta é com certeza a “marca” de Aziz Ab'Saber: suas observações detalhadas e minuciosas das paisagens foram fundamentais para comprovar suas teorias e para a compreensão do funcionamento dos processos ligados ao ambiente físico de diversos lugares.
             A primeira atividade acadêmica de Ab'Saber ao ser aprovado no vestibular, na Universidade de São Paulo, tem a referida “marca”: foi uma excursão com o professor Pierre Monbeig para a região de Sorocaba, Itu, Salto e Campinas. Esta excursão marcou sua vida e foi fundamental pra a definição do rumo que tomaria, como destaca o livro “A obra de Aziz Nacib Ab'Saber”, p.14: A vida de geógrafo de Aziz começou nessa oportunidade, em que ficou observando a paisagem, a sequência de cenários nos diferentes espaços, procurando já fazer suas primeiras interpretações”.
           Na excursão com o professor Monbeig ele tomou conhecimento dos diferentes relevos do Estado de São Paulo, como o litoral, a Serra do Mar, o Planalto Atlântico e a Depressão Periférica, essa última, mais tarde, objeto de suas pesquisas.
           Era tão grande o espírito observador de Ab'Saber que no decorrer da graduação ele procurava sempre fazer a associação das teorias que aprendia na sala de aula e nos livros que lia com a análise in situ. Isto pode ser ilustrado através das “viagens” que ele realizava pela cidade de São Paulo tentando ler a paisagem. Ele ia até os pontos finais das diversas linhas de bonde e a partir deles andava pelos arredores, procurando entender a região metropolitana da época.
            Além das excursões e visitas à campo, Ab'Saber também se interessava pela literatura dos  grandes romancistas brasileiros, que ao longo das suas histórias abordavam a descrição das paisagens ao qual estavam situadas. A obra que mais o impressionou, e que não deixa de ser um estudo de Geografia, foi Os sertões de Euclydes da Cunha. Neste livro há referências ao relevo e ao clima, com especial atenção às secas, além de um esboço geológico e um geográfico da região onde se desenrolou a luta de Canudos.
            Outras passagens da vida de Ab'Saber estão ligadas diretamente as observações empíricas,  como a primeira viagem à Amazônia, realizada sem recursos e sem planejamento, aproveitando as oportunidades que surgiam ocasionalmente, como acontece na maioria dos casos com os estudantes de Geografia, que aproveitam os congressos para conhecer diversos lugares. Era nesta perspectiva que Ab'Saber  promovia reuniões anuais em diversos locais do país. Como as reuniões se davam em pequenas cidades, em lugar de capitais estaduais, houve a oportunidade de desenvolver pesquisas de campo nos arredores dessas cidades.
            Todas estas passagens da vida deste grande Geógrafo, que se destacou justamente pelo amplo conhecimento do território brasileiro, com estudos geológico-geomorfológicos fundamentais   para a Geografia, assim como a diversas ciências ambientais, nos fazem refletir a importância que os estudos, apoiados na análise direta no local onde ocorrem, tem para a formação dos Geógrafos.         Poder aliar a teoria, as técnicas e comprovar e identificar fenômenos e representações nos mapas, cartas etc, é fundamental para ampliar os conhecimentos. Como destaca Ab'Saber: "mais importante do que consultar livros é ler a paisagem".
            Podemos citar também como exemplos de leitura da paisagem os de Leonardo da Vinci e Bernard Palissy, que desenvolveram importantes constatações que se transformaram em elementos  fundamentais para compreender os diversos mecanismos que iniciaram os estudos da geomorfologia. Da Vinci, em uma época em que as explicações sobre os fenômenos naturais eram atribuídas a Deus, observou que os vales eram cortados pelos rios e que as  correntes transportavam materiais de um local para  outro.
            Outros cientistas, de épocas distintas também obtiveram informações importantes e puderam desenvolver e comprovar teorias através da observação no campo. Atualmente, a incorporação de equipamentos e de técnicas mais avançadas auxiliam os pesquisadores e tornam o trabalho de campo mais efetivo, entretanto, os ensinamentos e as teorias obtidas através de observações, como as de Ab'Saber e de outros pesquisadores são muito significativas, principalmente para a Geografia, que tem como objeto de estudo a descrição e compreensão da terra, levando em conta a ocupação humana.