quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Sobre Desenvolvimento


Felipe Leindecker Monteblanco
Mestrando em Geografia - UFRGS

        A partir do início dos anos 1990 se acentuaram as controvérsias, os debates e os estudos sobre o desenvolvimento. Isso se deu em virtude de vários fatores, especialmente do agravamento da degradação ambiental, problema este resultante do modelo de desenvolvimento mundialmente difundido, baseado unilateralmente na economia e representado principalmente por números como o PIB.
     Neste contexto de novos pensares, no Brasil e no mundo, as discussões sobre desenvolvimento reapareceram com nova “aparência”, agregando diferentes adjetivos como, endógeno, exógeno, sustentável, local, territorial, entre outros. Particularmente, um deles ganhou maior destaque: o desenvolvimento sustentável, que passou a ter maior visibilidade a partir de documento publicado em 1988 pela Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, o chamado Relatório Brundtland ou Nosso Futuro Comum. Nele, desenvolvimento sustentável aparece definido como “aquele que atende às necessidades do presente sem comprometer a possibilidade de as gerações futuras atenderem as suas próprias necessidades”.
      Após isso, passadas algumas décadas, o termo virou “moda” nas mais variadas atividades, ao passo que parece vir cada vez mais vazio de sentido.E, por vago, passou a servir a interesses diversos. Hoje é sinônimo tanto de nova ética do comportamento humano e de revolução ambiental quanto de mecanismo de ajuste da sociedade capitalista,um “capitalismo soft”.Para alguns autores, inclusive, por sua superficialidade, não pode nem mesmo ser considerado um conceito, pois estes são necessariamente complexos e implicam em reflexão sobre um problema a ser resolvido, como bem colocam os filósofos Deleuze e Guattari.
Porém, ao invés disso, esta “noção” de desenvolvimento sustentável tem acobertado os motores da crise ambiental à medida que propõe soluções de forma fragmentária e sem pensar nas origens complexas do problema. Generalizando tanto os culpados quanto os responsáveis pela necessária mudança e, confundindo o entendimento de ambiente e de natureza, esta idéia suprime a reflexão sobre o modo de produção de mercadorias e sobre a existência de classes sociais, dificultando a análise crítica.
      Por exemplo, campanhas de desenvolvimento sustentável envolvendo grandes empresas são mobilizadas para preservar a Amazônia, recuperar os rios, salvar do extermínio as nações indígenas e os animais em extinção. Mas o que fazer diante dos pobres que continuam a chegar nas grandes cidades? Por isso, a busca por soluções para a crise ambiental deve pressupor ações (gestão) que necessariamente devem incluir a busca de soluções para a pobreza estrutural que assola muitos países, e não se restringir somente a mitigar impactos das atividades humanas na natureza por si só. É evidente que problemas como esses não são desconexos e, portanto, não podem ser resolvidos isoladamente.
      Os anos de políticas setoriais, estanques e compartimentadas de desenvolvimento já mostraram seu resultado perverso, já se sabe há muito tempo que a realidade não é uma coleção de coisas independentes, mas sim um todo uno, múltiplo e complexo. Durante os anos do “milagre brasileiro”, por exemplo, era anunciado que o Brasil estava às portas do desenvolvimento devido à economia, que já era a oitava maior do mundo. Não se levava em conta que nestes mesmos anos, registravam-se os maiores picos de pobreza e desigualdade e de degradação ambiental.
      Por isso, como afirma o ex-ministro Carlos Minc, a questão ecológica está muito atrelada à justiça social.“Só haverá desenvolvimento ecologicamente viável em uma sociedade profundamente democrática, na qual a população tenha realmente poder sobre a organização da economia e do uso do espaço e também o poder de inventar novos direitos que ampliem seus espaços de autonomia e de liberdade”.
      Assim, deve estar em primeiro plano que, repensar o desenvolvimento é não uma alternativa, mas uma necessidade, e nisso já existem grandes avanços. Porém, não custa se perguntar quantas vezes for preciso: o que é realmente desenvolvimento? Pra que, pra quem e por que ele é preciso? Ele precisa de complementos (sustentável, regional, endógeno, etc.)? Ou deveria ter um significado universal?  Existe um modelo a seguir?  Ou devem ser respeitadas as diferenças provindas das identidades/culturas/enraizamentos?
      Para exemplificar e finalizar, o caso de Sant’Ana do Livramento é interessante, pois nele, questionamentos como estes colocados se fazem oportunos. Chegaram os “bons ventos”, trazendo consigo o estandarte do desenvolvimento sustentável para o município, justamente por se tratar de uma energia limpa e renovável. Porém, não por mau gosto, mas pelo contrário, por querer Sant’Ana cada vez melhor, é preciso questionar: além da energia limpa, que outros motivos levarão a chamar a chegada deste empreendimento de desenvolvimento? e de sustentável? Incremento na arrecadação? Turismo? Parece que sim.
      No entanto, como o visto no exemplo dos anos do “milagre brasileiro”, crescer o bolo não significa nada até que ele seja repartido. Tampouco, energia limpa significa estômago cheio. Então, antes de comemorar, é preciso estar de olho por trás das roupagens, para ver que tipo de desenvolvimento está se desenhando na fronteira.

2 comentários:

  1. Parabéns pelo Excelente Blog

    Gostaria de mandar algum material para partilhar com o amigos desse blog. Para que e-mail eu mando?

    Continuem com essa grande iniciativa

    Dionisio Sangoi

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  2. Obrigado. Que bom que está gostando do blog.

    Pode enviar o material para o e-mail: geografoss@gmail.com

    Abraço.

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